domingo, 29 de março de 2009

Fomos Guerreiros


Gravura em linóleo feita a partir de um desenho solto de vários guerreiros diferentes.

Fizeram o que podiam, por isso estão a "arrumar as botas", ou as espadas, como queiram. Não deixam de estar cabisbaixos e decepcionados. São maus apanhadores de autocarros, mas ainda assim tentam apanhá-los com o seu próprio esforço. Têm mais valor assim...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Quimera?

E no outro dia lá nasceu este esboço, uma aglutinação de dois animais já existentes - uma serpente e uma tartaruga.

Víscera

Víscera, 60cm x 45cm, técnica mista, 2005

Por entre uma série de experiências espontâneas com materiais dos mais variados saiu isto. É das "manchas" que fiz talvez a que mais admiro. Não posso deixar de constatar que apesar do gesto há aqui muito acaso, e também muita sorte penso eu.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Pórtico

Pórtico, 150cm x 300cm x 10cm, madeira e ferro, 2008

"Pórtico" refere-se habitualmente a algo que se atravessa e que pauta um ritual de passagem, que é oposto ao conceito de escultura, que é a princípio e por definição um objecto no espaço com a sua presença (mais ou menos densa) que, passo a redundância, ocupa um espaço e portanto não pode ser atravessado. A altura e a natureza deste objecto faz então colidir essas duas facetas.

A nível de conteúdo este objecto é um pouco como diz Richard Deacon, um "Peixe fora de água". A sua construcção está a nu e é suportada por bases e uma moldura de ferro, que a mantêm de pé e impedem que se desarticule. Um "objet trouvé" modificado, com aspecto e quiçá proveniência orientais.


Sombra

Sem título, dimensões variáveis, fotografia, 2007

Estranho como a volumetria do objecto está opaca, e o espaço envolvente está distorcido e um pouco disforme, mas é isso que permite vislumbrar aquela "silhueta".
A sombra é uma região escura formada pela ausência parcial de luz, proporcionada pela existência de um obstáculo.
Tanto esta figura como aquilo que a envolve transporta algo de misterioso, mesmo para mim.

Projecto - Auto-retrato fotográfico

Sem título, dimensões variáveis, fotografia, 2007

Foto baseada nos estudos sobre o movimento de Edweard Muybridge. O movimento é registado pela luz, logo é literalmente foto-grafia (escrita com luz).

Introspecção

Introspecção, 200cm x 188cm, óleo sobre tela, 2007

Um auto-retrato em tamanho real que apresenta um diálogo não só entre as três dimensões da figura e as duas dimensões do fundo, mas também um diálogo entre "expressionismos" concreto na figura e abstracto no fundo.

Ecdise


Uma enunciação à metamorfose.
Trata-se de uma espécie de esqueleto baseado na anatomia do cavalo que se assemelha simultaneamente a um insecto.
O nome "Ecdise" sugere o facto de ser algo que o insecto deixou para trás para crescer, neste caso não o exosqueleto, mas sim o esqueleto interno. Facto interessante, visto que os insectos são seres invertebrados.
Ainda só tenho aqui a foto deste esboço, que originou uma escultura. Pu-la em tensão nas paredes com uma espécie de teia, ao invés de usar um pedestal. Fica como que a "flutuar". Ao mesmo tempo toca na tipologia dos aracnídeos, como uma tarântula, por exemplo.
Concluindo, é um ser inventado por mim e em mutação, do qual só vemos os vestígios.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Desenho estranho


Estão a ver as histórias exageradas contadas pelos velhos, nas quais são acrescentados tantos pontos que a verdade se dissipa e às tantas aquilo parece uma espécie de feito heróico tipo a Odisseia ou a Ilíada?
Três bichinhos meiguinhos, estão ali. Um crocodilo, um pitbull e um urso. Contudo o personagem está numa forma física tal que a ameaça soa a brincadeira, e tem uma destreza e reacção capazes de enfrentar as adversidades!

domingo, 22 de março de 2009

Uma pintura com som

You Can't Unring a Bell, 200cm x 200cm, óleo sobre tela, 2007


"Uma pintura com som" - Disse-mo José Eduardo Rocha, ou JER, esse maluco. E eu ainda nem tinha a pintura acabada.

Perguntei também uma vez uma coisa a um puto de 5 anos, armado em esperto. Uma pergunta filosófica.
"Porque é que o céu é azul?"
Fico espantado com o que ele me responde. De repente senti-me mesmo burro. Disse-me ele com a maior convicção:
"Porque se fosse vermelho, as nuvens não podiam ser brancas."
Uma análise de carácter pictórico apuradíssimo. E lembrei-me da pintura que estava a fazer.

O título da pintura significa acima de tudo: O tempo não é algo que possa voltar atrás.

O personagem está a matar-se, e ao mesmo tempo está a avisar-se a ele próprio que o está a fazer. Achei interessante o facto; aquando da morte de uma pessoa, os sinos dobram.

Não sei especificar portanto se na imagem que vemos ele está vivo ou morto, mas creio que está numa transição (in limbo).

A comparação do homem com a máquina, essa é outra.
Qual é melhor? O Homem ou a máquina? A máquina é algo criado pelo Homem. Não será o Homem também uma máquina?

Retratos mútuos

Enquanto eu decidi fazer a pintura do meu amigo Luís, ele decidiu também retratar-me à maneira dele - através da escrita. Aqui vão os referidos retratos:

Retrato de Luís Miguel Gonçalves, 100cm x 70cm, óleo sobre papel, 2007


"Tornado
centro
do
desenho
extremo
da tua
doce
sensibilidade
de uma
nervosa
linha
contínua
da procura
de uma
LIBERDADE
escondida"

Luís Miguel Gonçalves

sexta-feira, 20 de março de 2009

Demental - The Mental

Divagravas,
Num non-sense canónico, pluritonal
O espelho reflecte e reflectir é pensar
Borrachas e corações colidem quando se tenta apagar o passado
Que melhor estudo de anatomia que sentir na pele
Viste-me as entranhas e não me decifraste
No ponto. Entre a genialidade e a loucura
Qual é o fim dessas coisas e qual será o seu fim?
O duelo silencioso entre mim e mim próprio
A estrutura que me sustenta é o que eu ostento
Sem tretas não há milagres
Gostava de ser um homem sobrehumano
Se borrei a pintura no passado, estou-me nas tintas
Aprendi a lidar com a minha desgraça como uma simbiose
Fiquei a viver partilhando o vazio com criaturas inertes
Nunca constatei alguém desdenhar do aprazível com tanto fulgor
Como brandy mel doce e agreste ela fazia-me implodir...
A minha vida está com cancro.

Encarcerado na Máquina putrefacta que é o meu corpo

O meu cabelo está-se a desintegrar.
Os meus olhos de sangue borbulhantes, explodem órbitas fora.
A minha pele rasga-me em cacos.
A minha barba são espinhos cravados na minha face.
A minha carne consome-se a si própria.
Os meus ossos pulverizam-se como areia ao vento.
Os meus dentes saltam disparados das gengivas.
Os meus tendões dilaceram-me os membros.

Sonho em morrer e não realmente morrer.
Vagueio na minha carcaça como um zombie.
Cultivo a devoção ao impossível.

Cago os intestinos fora.